Sabe aqueles dias que você acorda relativamente bem, exerce suas atividades domésticas ou do trabalho e de repente… Cabummm! Seu ânimo e motivação vão lá para baixo, na pontinha do seu dedo mínimo.
Como terapeuta cognitiva, a explicação mais plausível que me ocorre é que algum pensamento pode ter passado na sua mente, mesmo que você não esteja totalmente consciente do conteúdo do pensamento. Na maioria das vezes, os pensamentos ocorrem por uma fração de segundo, e quando tentamos lembrar simplesmente não conseguimos. É um processo automático e muito rápido.
Que nosso estado de humor se altera por algum pensamento que nos passou pela cabeça isso já é sabido. A questão é POR QUE E COMO ISSO OCORRE?
Bem, existe um fenômeno psiquiátrico que explica isso. Nos compêndios de psiquiatria e manuais de diagnósticos você irá encontrar pelo nome técnico de disforia. A disforia é definida como uma alteração no humor que ocorre subitamente e pode ser passageira. Essa alteração pode levar à tristeza, angústia, ansiedade, irritabilidade e pessimismo acentuado.
Em termos gerais, a disforia constitui um conjunto de emoções negativas e pode fazer parte de um quadro de Transtorno Bipolar, Transtorno Depressivo Maior ou Transtorno Disfórico Pré-Menstrual.
Entretanto, a disforia também pode ocorrer em pessoas sem qualquer transtorno psiquiátrico, ou seja, pode ocorrer um “episódio disfórico” sem recorrências frequentes. Por exemplo, você pode apresentar disforia quando está com uma carga excessiva de trabalho, ou quando percebe que sua semana vai ser muito curta para lidar com todos os problemas. Basicamente, a disforia pode fazer parte de um estado de estresse passageiro, e pode agravar-se caso você não fique atento a isso. E aí sim, você pode acabar desenvolvendo depressão ou um quadro de estresse crônico.
É difícil acreditar que alguém nunca tenha passado por algum momento de disforia. O importante é podermos identificar quando ela surgir para conseguirmos freá-la.
Outro dia uma paciente (vamos chamá-la de Suzana**) veio para atendimento em terapia com algumas queixas. Veja abaixo:
Suzana procura terapia porque tem percebido como está desanimada com seu relacionamento e seu trabalho. Chega ao consultório com humor um pouco deprimido, dificuldades para dormir e de acordar cedo para ir para o trabalho. Após algumas sessões e algumas metas de curto prazo terem sido cumpridas, como por exemplo, ter melhorado sua comunicação com o namorado e feito a higiene do sono seu humor vai melhorando progressivamente. Depois de 7 sessões de terapia chega ao consultório com o seguinte relato:
Sabe, tenho me sentido bem melhor comparado ao início da terapia. Porém, algumas vezes ainda me sinto triste, um pouco angustiada, até mesmo ansiosa.
Você consegue me dizer o que tem passado pela sua cabeça quando se sente mais triste?
Hmmm… Não sei. A princípio não consigo lembrar.
Quando foi a última vez que você se sentiu mais triste e angustiada?
Acho que foi ontem a noite. Essa semana terei um evento para organizar no trabalho. Pode ter sido isso.
Você lembra de ter pensado no evento dessa semana e depois ficado mais triste?
Na verdade não.
Ok, tudo bem. Às vezes nos sentimos mais tristes ou angustiados e sempre que isso acontece é porque alguma coisa passou pela nossa cabeça. Pode ser um pensamento, uma lembrança ou uma imagem. Pode até mesmo ser manifestado em forma de sonho. É importante observar o conteúdo desses pensamentos. Lembra quando lhe expliquei sobre o como nossos pensamentos afetam nossas emoções? Daqui para frente iremos prestar atenção quando ocorrer alguma alteração no seu humor, pois assim conseguiremos identificar, avaliar e responder a esses pensamentos. O que você acha?
Sim. Acho bom.
O pequeno diálogo acima exemplifica bem os casos em que nem sempre estamos conscientes dos nossos pensamentos. Quando os pacientes chegam para terapia ainda não conhecem o modelo cognitivo que explica como seus pensamentos afetam seu estado emocional. Assim, é importante que o terapeuta explique sessão a sessão como poderá ajudar o paciente a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos automáticos. Registrar e analisar os pensamentos constituem uma das principais técnicas da terapia cognitiva cuja base filosófica explica boa parte do funcionamento do paciente.
**Relato autorizado pela paciente.