Que atire a primeira pedra quem nunca se perguntou que diabos é esse tal de TDAH e o que ele faz com a mente das pessoas. Olha gente, não sei vocês, mas sempre me perguntam algo a respeito, desde coisas básicas, como “mas o que é TDAH?”, “isso aí existe?”, até perguntas mais capciosas, tipo “você acredita no TDAH?”. Juro, até essa última eu recebo, conotando crença e fé, rs!
Essas perguntas geralmente vêm de pessoas que não são da área médica e da saúde, pessoas curiosas para saber o que é isso que todo mundo tanto fala, que saem nas capas de revistas pseudocientíficas e pode se desenvolver em qualquer sujeito, artista, batuqueiro, jornaleiro e até nós, reles mortais.
O TDAH é a sigla para Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. É um transtorno caracterizado por um conjunto de sintomas cognitivos e comportamentais que se desenvolve ainda na infância e que pode se manifestar na escola, no ambiente doméstico, em alguma atividade significativa (esportes, música etc.) e/ou no trabalho, no caso de adultos. Existem vários critérios para o diagnóstico de TDAH, e agora já os temos revisados por um grande conjunto de médicos, pesquisadores e cientistas, cujo resultado estará disponível nas nossas prateleiras no Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais, o DSM-5. Basicamente, o que define uma pessoa com TDAH é a apresentação de:
São 12 os sintomas que devem se apresentar, sendo 6 para cada tipo, ou seja, o sujeito deve apresentar pelo menos 6 sintomas de desatenção para ser considerado um sujeito desatento, e/ou 6 sintomas de hiperatividade-impulsividade, para ser considerado hiperativo-impulsivo. Ele pode apresentar os 12 também. Quando o diagnóstico é feito em pessoas em idade adulta, esta lista cai para 5. Não listarei todos os sintomas aqui por uma questão de espaço, mas deixo uma descrição breve de cada um de acordo com o DSM:
Desatenção: falta de atenção para detalhes, cometem erros por omissão, as tarefas são realizadas sem o devido cuidado e meticulosidade, dificuldade para manter a atenção, dificuldade para persistir e terminar as tarefas, parece estar com a cabeça “em outro lugar”.
Hiperatividade: inquietação, não consegue permanecer quieto ou sentado por muito tempo e quando deveria; apresenta dificuldade em realizar tarefas de lazer em silêncio; demonstra estar “a todo vapor”.
Impulsividade: impaciência, não espera sua vez, responde antes da pergunta ser finalizada, interrompe conversas alheias.
Como qualquer transtorno, distúrbio, doença, patologia, o TDAH também pode variar em níveis de comprometimento, podendo ser leve, moderado ou grave. Além disso, é importante ter uma boa experiência clínica para fazer o diagnóstico, ou seja, não existe um exame biológico para a detecção do TDAH. Ele é basicamente clínico. Isso significa que é preciso coletar informações com o próprio sujeito, com familiares, professores, mentores e observar a ocorrência ou não dos sintomas e o nível de comprometimento.
Quanto à pergunta: “o TDAH existe?”. Pois bem, há alguns protestos contra a existência não só do TDAH, mas também da Dislexia, Discalculia e por aí vai. Essas manifestações surgiram da revolta contra a medicalização das doenças, contra a “patologização” de tudo que aparece hoje em dia. Mas também existem aqueles que revidaram contra esses protestos, pesquisadores e cientistas renomados mundialmente, como Russel Barkley que é estudioso do TDAH há anos e que organizou documentos e assinaturas influentes revidando o ataque. Quem ganhou essa briga? A verdade é que este não é um caso encerrado, as discussões permanecem. O que posso dizer é que pesquisas com validade científica estão aí mostrando que sim, o TDAH é uma condição médica que tem tratamento tanto farmacológico quanto psicoterapêutico e pode tornar a vida das pessoas muito mais funcional e com mais qualidade de vida.
Se existe uma melhora no quadro do sujeito, então não podemos negar o fato de que os sintomas estão aí para quem quiser ver, procurar ajuda especializada e tratar.
Em breve, falarei um pouco mais sobre o assunto fazendo algumas correlações neuroanatômicas. Até lá!